domingo, 31 de julho de 2011

Ao Sr. Paulo Rangel

Recentemente no seu blog, o Sr. Paulo Rangel, eurodeputado, entreteve-se a vituperiar milhares de cidadãos deste país, à conta destes reivindicarem para os animais alguns direitos que lhes são negados (http://paulorangel2010.blogspot.com/2010/03/os-caes-ladram.html). Ora, se a falta de conhecimento da realidade justifica, a meu ver, a falta de argumentação desse modesto texto escrito pelo senhor em questão, não poderá nunca justificar o insulto e a falta de educação de um cidadão, quanto mais de um politico com representação internacional.
Diz o Sr. Paulo que os defensores dos direitos dos animais “ladram” enquanto a sua caravana passa e que o partido que surgiu recentemente para dar voz a esses animais, pretende “(z)urrar” no parlamento – ao que parece o Sr. Paulo acha que o Parlamento é um lugar para burros, pois sinta-se então à vontade para enfiar a carapuça, com o cuidado de deixar bem visíveis as orelhas para que todos possamos ter bem presente a que espécie é que o Sr. pertence (pena que não seja à dos que estão em extinção…).
Não é o primeiro. Muitos reagiram aos 57849 votos que o PAN obteve, não esquecendo que este partido foi oficializado apenas cinco meses antes das eleições. Num vergonhoso desvio aos valores democráticos, todos estes eleitores e os demais que se revêem nas ideias defendidas pelo partido dos animais (racionais e não racionais) são visados pelos comentários injuriosos dos que, tal como o Sr. Paulo, já não conseguem conviver com a agitação que provocam tantos cães a ladrar. E são muitos … cães e gatos nas nossas ruas sujeitos a maus-tratos indescritíveis por parte de seres humanos menos escrupulosos, ao sofrimento extremo de vários dias sem comer nem beber, ao frio e à doença. Milhares de instituições, associações e particulares deste país procuram combater este flagelo, com entrega e sacrifícios pessoais. Substituem-se a quem teria o dever de o fazer, ainda que sem devoção. A Resolução da Assembleia da República n.º 69/2011 recomenda que o governo promova junto dos canis municipais uma política de não abate dos animais errantes – mas sob a conduta do governo laranja, são diariamente abatidos dezenas de animais nos canis portugueses. Diz a mesma Resolução que devem ser adoptados meios eficazes de controlo de reprodução dos animais, mas são uma vez mais as instituições particulares que estão diariamente no terreno a capturar os animais para os esterilizar, pagar do seu bolso essas castrações, sem ter a quem apresentar a factura. Sabe para quê, Sr. Paulo? Para que haja menos cães a ladrar nas ruas enquanto a sua caravana passa ao lado…vê como afinal até somos seus amigos?!
Sabe, as nossas instituições de defesa animal “exportam” muitos animais para a Alemanha. Animais deficientes que aqui não poderiam esperar mais do que a eutanásia e que lá são recebidos e tratados com dignidade. Nunca se cruzou com nenhum nas suas viagens de trabalho? Não?! Acredito, eles não viajam em primeira classe. E em resposta ao “rendimento mínimo” que diz que um dia destes estaremos a pedir para os pobres peludos, veja o que fazem nos países civilizados, com políticos de nível, a mesma Alemanha, que em tempos de crise aprovisiona a “sopa dos pobres” para os animais cujos donos já não conseguem pagar a alimentação: http://blogdaanimal.blogspot.com/2009/09/alemanha-animais-afectados-pela-crise.html.
Infelizmente não perspetivo a mudança deste triste cenário nos tempos de austeridade em que vivemos, até porque haverá pessoas a quem deve ser dada prioridade. Na certeza, porém, que cabe ao governo zelar pelos direitos de todos os animais. Pela abordagem arrogante e egocêntrica do Sr. Paulo, chego até a acreditar que este desconhece que todos derivamos de um ancestral comum mais ou menos afastado e, como animais que somos, partilhámos com os demais inúmeras características como a capacidade de sentir medo, dor, tristeza e alegria.

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