domingo, 21 de julho de 2013

Os 7 mandamentos dos donos de gatos 5 estrelas

1 - Castre / esterilize o seu gato


De entre as inúmeras vantagens que traz para si e para o animal, salientam-se as seguintes:
 - a nível comportamental, elimina comportamentos como marcação de território com urina (machos), fugas (um gato ou gata com o cio fará tudo o que estiver ao seu alcance para sair para o exterior; muitos animais saltam de varandas ou janelas, acabando por ficar feridos com gravidade e muitos não regressam a casa...) e o típico miar de "choro" nas gatas, na época do cio.

- superpopulação - em Portugal, o número de gatos à espera de um dono, quantas vezes enjaulados meses ou anos a fio, é muito superior ao número de pessoas disponíveis para os adotar. "Uma gata, em apenas 2 anos, poderá deixar 2000 descendentes". Por causa disto, milhares de animais saudáveis são sacrificados pelos municípios anualmente. Nas ninhadas que nascem na rua, um elevado número de bebés acaba por morrer, conhecendo na sua curta vida apenas dor, frio, fome, sofrimento...

- saúde - a incidência de tumores mamários e de piómetra decrescem substancialmente nas fêmeas esterilizadas; nos machos, a esterilização elimina a possibilidade de desenvolvimento de tumores nos testículos.

(para mais informações, visitem o site esteriliza-me.org)



2 - Mantenha o seu gato dentro de casa (ou num espaço exterior vedado, que o impossibilite de sair para a rua)


Assim, evitará atropelamentos, lutas com outros gatos, possibilidade de ataques mortais por cães, possibilidade de sofrer maus tratos e evita o contágio de doenças.




3 - Forneça ao seu gato uma ração de boa qualidade 



Deste modo, o seu amigo gato terá uma vida mais longa e evitará doenças (sobretudo formação de cálculos renais).




4 - Assegure ao seu animal todos os cuidados veterinários de que necessite


Leve o seu gato uma vez por ano ao veterinário para ser vacinado e para que o veterinário avalie o seu estado de saúde geral. 
Nunca adie uma ida ao veterinário se suspeitar que o seu animal está a doente (sobretudo se deixar de comer, se vomitar ou tiver diarreia) e JAMAIS lhe dê medicamentos de uso humano, pois podem ser mortais. Apenas administre ao seu animal medicamentos recomendados por um veterinário ou técnico de veterinária.
Desparasite internamente o seu gato de 4 em 4 meses (com um desparasitante específico para gatos).


5 - Não deixe o seu gato só por muito tempo


Apesar de serem animais bastante independentes, os gatos, no geral, apreciam a companhia humana. Se tiver necessidade de deixar o seu gato muito tempo só, pondere a possibilidade de lhe arranjar uma companhia felina.
Brinque com o seu gato diariamente, ajudando-o a manter-se ativo e saudável.


6 - Responsabilize-se sempre pelo seu animal


Jamais, em quaisquer circunstâncias, pondere a possibilidade de abandonar o seu gato. Um gato habituado a estar em casa e que é colocado na rua sente-se perdido, deprimido e só. Ficam terrivelmente magros e não sabem andar na rua. Abandonar um animal é um ato de indescritível crueldade. 
Se tiver que o entregar ao cuidado de alguém, certifique-se de que o entrega a alguém que o tratará com o mesmo zelo que era tratado por si; de preferência a alguém que já conhece.


7 - Tenha cuidado com janelas e varandas


Infelizmente, e apesar de quase sempre caírem de pé, os gatos nem sempre sobrevivem a quedas de janelas. Infelizmente são muitas as histórias que conheço de gatos que não resistiram a essas quedas. 

Um gato quando vê um inseto a passar lá fora não se pensa "espera lá, não posso apanhá-lo, estou na janela e posso cair"! O instinto e a curiosidade podem precipitar a queda...




domingo, 9 de dezembro de 2012

Porque deve dar ao seu gato uma ração de qualidade?


As rações para gatos não são todas iguais? Qual o critério para escolher uma boa ração? O meu gato gosta desta, por isso é adequada?

Durante décadas acreditou-se que as rações secas industrializadas eram responsáveis por induzir a formação de cálculos urinários (a “pedra” nos rins), o que favorecia o aparecimento de doença do trato urinário inferior em gatos domésticos. Hoje sabe-se que não é bem assim… Os estudos mais recentes apontam um facto: a manutenção do pH urinário num valor ácido (inferior a 6,4, pois acima deste valor de pH começas a formar-se cristais) contribui para evitar a precipitação de cristais, logo, a formação de cálculos urinários.
Como se consegue manter o pH urinário nestes valores ácidos? Fundamentalmente, respeitando dois factores:

1 - Fornecer uma ração rica em proteínas de origem animal:
Animais alimentados basicamente com dietas ricas em proteína de origem animal tendem a produzir uma urina ácida; em contrapartida, animais alimentados com dietas ricas em cereais e vegetais, de um modo geral, tendem a formar uma urina alcalina”.
Portanto, não se deixem enganar pelo aspecto da embalagem da ração, pelas frases feitas que lá aparecem escritas ou por algum vendedor que vos tente convencer dizendo “se os gatos gostam e comem, é porque a ração é boa”…aliás, há várias formas de se dissimular uma ração má de modo a baralhar o olfacto exímio de um felino, há marcas que “banham” a ração de modo a ficarem com um aroma apelativo para os felinos. Bem, o que interessa fundamentalmente é olhar para o rótulo! Qualquer produto, seja para consumo animal ou humano, seja um alimento ou um creme para hidratar a pele, respeita a seguinte regra: os ingredientes estão descritos de forma decrescente, ou seja, do que se apresenta em maior quantidade para o que se apresenta em menor quantidade. Portanto, a ração do vosso gato deve ter como primeiro ingrediente da lista carne. Ou peixe. Ou proteína de origem animal. Nunca cereais!
Há rações que começam por “carne e subprodutos”; atenção, algumas têm mais subprodutos do que carne!!!! E o que são os subprodutos? Ossos, pele, cartilagens e até penas de aves!!! Percebem porque muitas rações de marca branca têm aspecto de cartão?! Penas, meus amigos…

2 – Deixar a ração à discrição do seu gato (atenção, se o seu animal tiver excesso de peso, pode não ser bem assim…fale com o veterinário!):
Os gatos que comem mais vezes, pequenas porções, tendem a formar uma urina menos alcalina. A explicação mais científica, para quem tiver interesse: “Sabe-se que a alimentação ad libitum resulta em onda alcalina pós-prandial de menor magnitude quando comparada à alimentação sob a forma de refeições diárias menos frequentes. A onda alcalina pós-prandial ocorre em consequência da secreção gástrica de ácido clorídrico quando da ingestão do alimento. Quanto mais intensa for a secreção gástrica com perda de ácidos para o lúmen intestinal, maior será a compensação orgânica, com a eliminação de bicarbonato via rins, o que determina a formação de urina alcalina”.

Não se esqueçam da água! Sem água tudo o que leu perde o interesse… há que fazer o vosso bichano beber! Dependendo do animal, há várias estratégias. Fontes que filtram a água, disponibilizar água em maior quantidade (o meu Gabriel só bebe da bacia que deixo cheia na casa de banho propositadamente para ele, não bebe do bebedouro) ou abrir a torneira, pois há gatos que não abdicam de beber “directamente da fonte”!
Contra factos, não há grandes argumentos… sou tendencialmente vegetariana, mas eu sou omnívora, o meu gato não! Os gatos são carnívoros, devemos considerar este facto natural na escolha do seu alimento. Caso contrário, com o passar do tempo, vão aparecer os problemas renais. E aí, se gosta do seu amigo, vai gastar muito mais a tratá-lo, para além de que terá de passar quase necessariamente a fornecer-lhe para o resto da vida, uma ração especial para problemas renais, invariavelmente, uma ração muito dispendiosa.

Espero ter contribuído para esclarecer as dúvidas daqueles que me questionam sobre as rações para gato… não sou veterinária, mas a minha formação académica permite-me compreender os artigos que li sobre o tema e discorrer sobre ele. Se algum veterinário detectar alguma incorrecção neste texto que deva ser rectificada, ou quiser contribuir com mais informação pertinente sobre o assunto, agradeço por favor que me contacte.

Os fragmentos transcritos deste texto foram retirados do artigo “Estudo clínico da doença do trato urinário inferior em gatos domésticos de São Paulo”.


domingo, 5 de agosto de 2012

Darwin e os gatinhos

Sou uma admiradora profunda de Charles Darwin. Sobretudo pela sua humildade. A sua famosa Teoria da Selecção Natural pode ser explicada resumidamente da seguinte forma: na natureza, todos os indivíduos de uma espécie apresentam características diferentes (determinadas por genes diferentes); aqueles cujas características os tornam mais aptos a sobreviver no meio onde se inserem têm maior probabilidade de sobreviver, logo, de gerar descendentes e passar-lhes esses genes. Assim, ao longo de todas as gerações, actua a selecção natural. O clássico exemplo das girafas – imaginem duas girafas, uma com o pescoço mais comprido, o que lhe permite alcançar facilmente o alimento da copa das árvores e outra cujo comprimento do pescoço é insuficiente para o fazer; quem sobrevive e passa os genes á descendência?! Aquela cujo comprimento do pescoço lhe permite alimentar-se.
Mas Darwin foi mais longe. Numa época em que seria impensável contrariar-se a ideia de que o Homem foi criado por Deus, Darwin assumiu o que o seu poder de observação e raciocínio de génio lhe mostravam - a selecção natural favorece a permanência das características adaptadas, constantemente aprimoradas e melhoradas. É a evolução das espécies. Novas espécies surgem das antigas. O próprio ser humano é uma consequência desse processo. E aqui reside a grandeza de Darwin, o que o distingue dos letrados supersticiosos e sofistas da sua época – nós não somos mais nem menos do que os outros animais. Descendemos dos macacos. E também nós estamos a ser sujeitos a selecção e evolução; temos ainda vestígios de órgãos que já não usamos para nada e que tendem a desaparecer no futuro, como o apêndice ou os dentes do siso.

Já reparam que quando nasce uma ninhada de gatinhos, há sempre um ou dois mais frágeis? O facto de muitos animais gerarem um elevado número de crias não é mais do que um simples mecanismo de adaptação – havendo mais crias, há mais probabilidade de que algumas sobrevivam; mesmo sabendo que algumas não sobreviverão por nascerem mais frágeis, a natureza sacrifica-os, em prol da perpetuação da espécie.
Estão por todo o lado. Gatos. Gatinhos. Gatos bebés, quantos muito débeis, muitos que morrerão se não forem recolhidos e ajudados. Mas não há possibilidade de recolhê-los a todos… Há e continuará a haver muitos gatinhos e muitos animais que vieram ao mundo para conhecer apenas, na sua curta vida, privação e sofrimento.
Saramago e o cão das lágrimas; na sua obra “O ensaio sobre a cegueira” há um cão que se aproxima da mulher desesperada e lhe lambe as lágrimas; Saramago disse que gostaria de ser lembrado pelo cão das lágrimas, por este personificar a compaixão e por esta ser a melhor virtude do ser humano.
A natureza é absoluta e avassaladoramente insensível. Equilibra o mundo seguindo à risca os conceitos de probabilidade, adaptação e afirmação. O ser humano, filho da natureza, descendente mais ou menos próximo de todos os outros animais, também é capaz de sentir compaixão. Como é possível constatar diariamente tanto sofrimento a que estão sujeitos os animais e não sentir compaixão? Como é possível que mediante a realidade dos cerca de 100 000 animais abatidos nos canis municipais anualmente, ainda haja pessoas a fazer procriação, a explorar animais pelo lucro fácil e, pior, como é possível haver quem os compre? Quantos destes, para depois os abandonarem?
Não fora suficiente a triste selecção artificial encetada pelo Homem, que elegeu ao longo de milhares de anos, acasalamentos entre animais para aprimorar características como beleza, agilidade e uma série de outras particulares por ele apreciadas. Não fora suficiente o mal causado às “raças puras”por essa soberba, tendo estes animais menos saúde que os animais não submetidos a este processo. Não. Nos nossos dias ainda se permite que se trate os nossos parentes como meros objetos que são colocados à venda em sites onde, para além dos animais, só resta tralha…

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Save a Life


Video de agradecimento aos adotantes e a todos os que me ajudaram a ajudar os patudos!
Espero que gostem tanto de assistir ao video como eu gostei de fazê-lo :-)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Toxoplasmose - a culpa não é do gato!

É frequente o abandono de gatos pelas futuras mamãs, não só pela falta de informação no que toca à Toxoplasmose, mas sobretudo pelo medo. Recordo-me de uma colega, quando estava grávida, profissional de saúde devidamente formada e informada, me ter contado que se levantou do sofá quando a gata de uns amigos se sentou, no extremo oposto... Como quase sempre acontece, o medo tem a força de se sobrepôr à razão. Contudo, como acredito que a informação é a melhor forma de prevenir estas infelizes situações, deixo-vos algumas informações sobre o tema.


Explicação do ciclo de vida do parasita Toxoplasma gondii:

O gato, hospedeiro definitivo do parasita (é nos gatos e outros felinos infectados pela doença que o parasita se reproduz), liberta através das fezes os oocistos, que, uma vez no solo, água ou plantas, são ingeridos por outros animais, como pássaros e roedores; estes funcionam então como hospedeiros intermediários (aqui, os oocistos vão transformar-se em taquizoítos), infetando o gato quando este se alimenta deles. Os oocistos podem também ser ingeridos por outros animais, como o porco, a ovelha e outros caprinos. Estes são também parasitas intermediários, transmitindo ao ser humano os cistos presentes nos seus músculos, através da ingestão de carne insuficientemente cozinhada.

Outras vias de contaminação do ser humano são a ingestão de comida ou água infectadas pelos oocistos – água ou vegetais provenientes de solos contaminados. A infecção pela carne pode dar-se não somente pelo consumo, como também pela manipulação da carne crua, contato com superfícies de preparação de alimentos, facas e outros utensílios.
O transplante de órgãos ou transfusão de sangue contaminado constituem também vias de infecção. A transmissão vertical, da mãe para o feto, é outra via possivel de aquisição da doença.

O T. gondii, pela sua versatilidade, dependendo do hospedeiro e da via, pode ser infectante em qualquer estágio evolutivo (taquizoítos, cistos e oocistos), fato que amplia muito, em condições naturais e laboratoriais, os riscos de infecção para os animais domésticos e o homem.


O Gato doméstico
O contato directo com gatos que excretaram fezes frescas não é capaz de causar infecção. Normalmente, o gato quando defeca enterra as sua fezes no areão ou num espaço de terra. Geralmente as fezes são consistentes pelo que o gato pode estar doente e, mesmo neste caso, pouco ou nenhum resíduo fecal fica aderido à região perineal e os gatos, em geral, não estão diarreicos durante o período de excreção de oocistos. Por outro lado, o gato é extremamente higiénico e nenhuma matéria fecal se encontra no pelo de animais clinicamente normais (por conseguinte a possibilidade de transmissão para o animal humano através do contacto directo é mínima ou inexistente). Também as mordidas e os arranhões são improváveis vias de transmissão pois dificilmente se encontra o agente infeccioso na cavidade oral de gatos com infecção activa e nenhum em infecção crónica.
Os oocistos libertados pelo gato só ao fim de 1 a 5 dias sofrem esporulação, logo, só ao fim deste tempo se tornam infecciosos.

Patologia no ser humano
No homem, é a principal causa de encefalite nos indivíduos afectados pela síndrome da imunodeficiência imunológica adquirida (SIDA), causando também lesões neurológicas e oftálmicas em crianças expostas durante a vida intra-uterina (se a infecção materna tiver sido antes do início da gravidez não há qualquer perigo, mesmo que existam cistos) e em indivíduos imunodeprimidos. (fonte: Direcção Geral de Veterinária)

Prevenção
A prevenção da infecção de cães e gatos baseia-se principalmente em cuidados com a alimentação destes animais, não permitindo que consumam carne crua ou mal-cozida, prevenindo assim a exposição a cistos teciduais. Os animais devem ser mantidos domiciliados e bem alimentados, prevenindo que venham a caçar roedores e aves que possam estar infectados.
A toxoplasmose no homem deve ser prevenida pela cocção adequada dos alimentos cárneos, pela lavagem das frutas e verduras, assim como dos instrumentos e superfícies utilizadas na preparação dos mesmos.

Nem as pessoas que criam gatos, bem como os veterinários possuem um risco significante maior de adquirir a toxoplasmose do que a população em geral, o mesmo valendo-se para gestantes e pacientes imunodeprimidos. Assim, esta população não deve ser afastada dos seus animais. As precauções são simples, consistindo na remoção das fezes dos felinos diariamente, prevenindo a esporulação de possíveis oocistos no convívio humano, tarefa que não deve ser realizada por gestantes e pacientes com imunodepressão. Devem ser utilizadas luvas sempre que sejam manipuladas as fezes dos gatos, assim como nos procedimentos de jardinagem.

Precauções na gravidez
Não existem exames que detectam se os gatos possuem ou não o protozoário Toxoplasma gondii; As mulheres grávidas devem evitar o contato com fezes de gatos, pois estas podem conter oocistos, não ingerir água de origem desconhecida e sem estar fervida, nem carne crua ou mal cozida durante a gravidez. (Fonte:http://www.hospvetprincipal.pt/toxoplasmose.htm)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Declaração sobre Circos com Animais de Nuno Markl

Caros seguidores, confesso que não tenho tido muito tempo para escrever sobre os inúmeros temas que ainda desejo explorar neste blog. Por isso vou aproveitar e deixar-vos uma belíssima crónica de Nuno Markl. Apreciem!

"Há algumas semanas, num dia soalheiro, junto à Marginal, um circo encarregou-se de me estragar o dia. Mas isso é o menos, um dia estragado, para mim, será sempre uma coisa relativa quando alguém tinha o dia (ou, melhor dizendo, os dias) muito mais estragados que o meu.

Um dromedário debatia-se com uma chocante falta de espaço, encafuado dentro de uma jaula, sem saber o que fazer ao longo pescoço. Uma vida sem sentido, enfiada mal e porcamente numa caixa. Como um brinquedo, mal arrumado dentro de uma embalagem pequena demais.
Chamem-me esquisito, mas eu tenho esta ideia de que não é suposto um dromedário estar em Carcavelos, ao pé da Marginal. Muito menos amarfanhado numa jaula da qual sai só à noite, para entreter os humanos da linha de Cascais.

Como este dromedário, há muitos outros animais - grandes, pequenos, selvagens, domésticos - transformados em bonecos de corda confusos e tristes, em circos espalhados pelo país.

E sim, eu já fui criança e preparo-me para ser pai. Sei o quão apetecível é a perspectiva de estar perto de animais extraordinários e vê-los levar a cabo feitos impensáveis.
Mas os verdadeiros feitos impensáveis destas criaturas são os que eles levam a cabo todos os dias nos seus habitats naturais, de onde, em muitos casos, estão a desaparecer. A
 maneira como sobrevivem, como se organizam, como levam as suas vidas em liberdade e sem que haja um ser humano desumano a obrigá-los a fazer habilidades à força do chicote.
Há tanta gente a queixar-se que Portugal é um país eternamente atrasado, que é um país que não anda para a frente; sem dúvida que tratar os animais desta maneira abjecta para fins de entretenimento em nada contribuirá para que progridamos. Pelo contrário: isso mantém um dos pés da nação firmemente plantados no passado.

E não é num passado qualquer: a existência de circos com animais e a maneira como tanta gente continua a caucionar essa existência, sejam particulares ou empresas (supostamente modernas, sofisticadas e responsáveis) que continuam a apostar neles, por exemplo, para as suas festas de Natal, é algo que - não tenhamos ilusões e enfrentemos a realidade - faz de nós um país demasiado medieval para o século XXI.

Somos melhores do que isso. Se admiramos os animais ao ponto de querermos que os nossos filhos os vejam de perto e os adorem, ensinemos-lhes que adorar um animal, é ter a consciência de que não é suposto um elefante, um tigre, uma pantera viverem dentro de jaulas num terreno vago ali ao pé de um prédio de apartamentos.

Provemo-nos merecedores de sermos chamados de humanos e civilizados. Sensibilizemos quem tem o poder de impedir que a terrível exploração de animais continue a acontecer nos circos portugueses.

Os circos podem - devem - continuar a existir. Inúmeros circos bem sucedidos, espalhados pelo mundo inteiro, conseguiram provar que um circo sem animais consegue ser ainda mais extraordinário e surpreendente que um circo que segue a via mais fácil e depende deles, arrogantemente, para fazer dinheiro. Um circo sem animais consegue mostrar o engenho humano voluntário de mil e uma formas surpreendentes. E isso é muito mais interessante e estimulante, para adultos e crianças, do que continuar a exibir o engenho animal forçado.

Nuno Markl"

Homens e Animais
A Voz da Razão in Correio da Manhã 09/Maio/2009