sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Adoção responsável

Resgatar um animal da rua e dá-lo para adoção requer algumas precauções. Uma adoção por impulso, de alguém que não está seguro da sua opção de ter um animal de estimação, pode resultar em abandono ou negligência para com o animal. Pessoalmente, tento sempre certificar-me de que a pessoa que recebe o animal é um bom adotante.  Quando damos um animal deixámos de ser nós a garantir que vive condignamente, restando-nos confiar na pessoa que o adota. Por isso nunca é demais questionar, pedir ao adotante que nos envie fotos do animal periodicamente e fazer o adotante assinar um termo de adoção responsável. Peça à pessoa que o devolva se não se adaptar ou se se arrepender – assim minimiza o risco de que o animal que deu seja abandonado.

Aqui ficam alguns conselhos:

1 - É bastante comum as pessoas procurarem um animal para oferecer a outra pessoa. Deve sempre falar diretamente com a pessoa que vai receber o animal, para se certificar que o deseja realmente adoptar. Um animal nunca deve ser um presente surpresa.
Nunca entregue um animal a uma criança ou menor sem o consentimento dos pais.


2 - Pergunte ao futuro adotante se vive com outras pessoas e se estas também desejam receber o animal. Deve tambem informar-se se há alguém em casa que seja alergico a cães ou gatos.

3 – Certifique-se que o animal não terá acesso ao exterior desacompanhado. Atropelamento, lutas com outros animais e contágio de doenças são motivos que bastam para não se permitir que um gato ou um cão andem a passear sozinhos.

4 - Os gatos e cachorros vão, na maioria das vezes, causar alguns estragos como arranhar sofás ou roer objetos, correr pela casa ou saltar para cima de camas e deixar pêlos...
O futuro adotante deve ter consciência que ter um animal não é o mesmo que ter um peluche ou um cão de loiça.

5 – Pergunte à pessoa se tem outros animais; se a resposta for positiva, pergunte se está esterilizado e se tem conhecimento de como sociabiliza com outros animais.

6 – Indague sobre a capacidade que a pessoa tem de proporcionar ao animal tratamentos veterinários caso necessite, bem como alimentação de qualidade razoável.


7 – Caso o animal não esteja esterilizado, combine com o adotante a altura em que deve ser feita a esterilização.  Se se tratar de um animal de raça pura pode estar perante alguém que pretende fazer criação para vender.
Por outro lado, um animal não esterilizado tende a fugir para a rua na primeira oportunidade que tiver, bem como a marcar território (gatos). Uma vez mais não se esqueça de pedir ao adotante que assine um termo de adoção responsável (ver coluna lateral) onde se compromete a esterilizá-lo. 

Se encontrar alguém que não compreenda e se sinta incomodado com a sua meticulosidade, então essa pessoa não será um bom potencial adoptante.

Nunca deixe alguém fazê-lo sentir que lhe está a fazer um favor ao adoptar o animal.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ode ao gato (Pablo Neruda)

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, voo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento ao rato vivo,
da noite até seus olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma só coisa
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de um navio.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite.
Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
seguramente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso,
talvez todos o acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço ao gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus extravios,
o por e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
o seu olho tem números de puro.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Dedico este poema ao meu amigo gato Lua-Cheia, preto de olhos redondos amarelos como a lua...já não te vejo há muitas semanas, não sei de ti, mas tenho saudades do teu ser carinhoso e da tua presença reconfortante, quando te dava comidinha, todas as noites...