domingo, 5 de agosto de 2012

Darwin e os gatinhos

Sou uma admiradora profunda de Charles Darwin. Sobretudo pela sua humildade. A sua famosa Teoria da Selecção Natural pode ser explicada resumidamente da seguinte forma: na natureza, todos os indivíduos de uma espécie apresentam características diferentes (determinadas por genes diferentes); aqueles cujas características os tornam mais aptos a sobreviver no meio onde se inserem têm maior probabilidade de sobreviver, logo, de gerar descendentes e passar-lhes esses genes. Assim, ao longo de todas as gerações, actua a selecção natural. O clássico exemplo das girafas – imaginem duas girafas, uma com o pescoço mais comprido, o que lhe permite alcançar facilmente o alimento da copa das árvores e outra cujo comprimento do pescoço é insuficiente para o fazer; quem sobrevive e passa os genes á descendência?! Aquela cujo comprimento do pescoço lhe permite alimentar-se.
Mas Darwin foi mais longe. Numa época em que seria impensável contrariar-se a ideia de que o Homem foi criado por Deus, Darwin assumiu o que o seu poder de observação e raciocínio de génio lhe mostravam - a selecção natural favorece a permanência das características adaptadas, constantemente aprimoradas e melhoradas. É a evolução das espécies. Novas espécies surgem das antigas. O próprio ser humano é uma consequência desse processo. E aqui reside a grandeza de Darwin, o que o distingue dos letrados supersticiosos e sofistas da sua época – nós não somos mais nem menos do que os outros animais. Descendemos dos macacos. E também nós estamos a ser sujeitos a selecção e evolução; temos ainda vestígios de órgãos que já não usamos para nada e que tendem a desaparecer no futuro, como o apêndice ou os dentes do siso.

Já reparam que quando nasce uma ninhada de gatinhos, há sempre um ou dois mais frágeis? O facto de muitos animais gerarem um elevado número de crias não é mais do que um simples mecanismo de adaptação – havendo mais crias, há mais probabilidade de que algumas sobrevivam; mesmo sabendo que algumas não sobreviverão por nascerem mais frágeis, a natureza sacrifica-os, em prol da perpetuação da espécie.
Estão por todo o lado. Gatos. Gatinhos. Gatos bebés, quantos muito débeis, muitos que morrerão se não forem recolhidos e ajudados. Mas não há possibilidade de recolhê-los a todos… Há e continuará a haver muitos gatinhos e muitos animais que vieram ao mundo para conhecer apenas, na sua curta vida, privação e sofrimento.
Saramago e o cão das lágrimas; na sua obra “O ensaio sobre a cegueira” há um cão que se aproxima da mulher desesperada e lhe lambe as lágrimas; Saramago disse que gostaria de ser lembrado pelo cão das lágrimas, por este personificar a compaixão e por esta ser a melhor virtude do ser humano.
A natureza é absoluta e avassaladoramente insensível. Equilibra o mundo seguindo à risca os conceitos de probabilidade, adaptação e afirmação. O ser humano, filho da natureza, descendente mais ou menos próximo de todos os outros animais, também é capaz de sentir compaixão. Como é possível constatar diariamente tanto sofrimento a que estão sujeitos os animais e não sentir compaixão? Como é possível que mediante a realidade dos cerca de 100 000 animais abatidos nos canis municipais anualmente, ainda haja pessoas a fazer procriação, a explorar animais pelo lucro fácil e, pior, como é possível haver quem os compre? Quantos destes, para depois os abandonarem?
Não fora suficiente a triste selecção artificial encetada pelo Homem, que elegeu ao longo de milhares de anos, acasalamentos entre animais para aprimorar características como beleza, agilidade e uma série de outras particulares por ele apreciadas. Não fora suficiente o mal causado às “raças puras”por essa soberba, tendo estes animais menos saúde que os animais não submetidos a este processo. Não. Nos nossos dias ainda se permite que se trate os nossos parentes como meros objetos que são colocados à venda em sites onde, para além dos animais, só resta tralha…

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